A caixa de Pandora: 1º cap. {Quarto de espelhos}

quarta-feira, 11 de novembro de 2015


— E, com caminhos possíveis e sem uma faculdade definida; Justin Drew Bieber. 

Afundei meu corpo na banheira e abri os olhos, vendo o teto do banheiro distorcido pela água. A formatura já tinha acabado, mas os fantasmas dela ainda vagavam por aí, escondidos entre as paredes da casa. O ar estava denso e pesado, como se uma neblina pairasse sobre os móveis. E, por mais irônico que pareça, estar debaixo d'água era menos sufocante do que estar com eles, lá no primeiro andar. 

Não sei porque insistiam tanto nisso! Cara, não era uma coisa simples. Seria o que eu faria pelo resto da minha vida. Deveria ser algo que eu realmente gostasse e que fosse me deixar realizado. Mas o Sr e a Srª Bieber só se importavam com o dinheiro. "Você deveria ser médico. É uma profissão respeitada e, mesmo com qualquer crise, não podemos viver sem médicos. Então, não tem riscos de dificuldades na vida financeira nem de ser demitido por crise econômica" dizia sempre minha mãe, exibindo um sorriso otimista no final. Quero dizer, eu não quero morar debaixo da ponte, óbvio, mas colocar o dinheiro como prioridade para escolher uma profissão? Não, obrigado. 

Não era tempo suficiente para escolher isso. E se eu me arrependesse depois por não ter pensado direito? Nós estudamos o primário e o fundamental com o objetivo de chegar ao Colegial e, no Colegial, tudo que fazemos é estudar e tudo o tempo todo, desde sempre, fala que você tem que decidir o que quer fazer da vida. Mas eu não tenho que saber. E é isso que eles não entendiam! É como falar com paredes. Na verdade, pior que falar com as paredes porque, pelo menos, as paredes ficam quietas depois. Eles fazem um escândalo, um discurso como se fossem entrar no Congresso e nunca entendem o que eu realmente quero dizer. 

Tudo que eles entendem é...

— Justin, saia logo do banho. Parece que morreu dentro do banheiro! Tá vendo? Deve estar dormindo na banheira! 

...Que eu estou sempre querendo vagabundear 24h por dia. 

Bufei e saí da banheira com a toalha enrolada na cintura. Joguei a roupa suja no cesto e sequei meu cabelo com outra toalha a caminho do quarto. Gritei que já estava saindo e vesti a roupa que estava mais próxima no guarda-roupas. Respirei fundo e preparei minha melhor cara de paisagem para entrar na cozinha. E foi o que eu fiz. Fui em direção a geladeira e enchi meu copo com suco de laranja normalmente, como se não estivesse ouvindo a discussão sobre o meu futuro e sobre minhas “irresponsabilidades” quanto a faculdade. Mas eu duvido que eles não saibam que eu tenha ouvido, até os vizinhos ouviram. 

— Justin, queremos falar com você. — eu conhecia esse tom. Fechei os olhos com força por instantes. Era o tom estou-forçando-uma-voz-doce-e-suave-mas-vem-merda-aí. Girei nos calcanhares e virei para eles. 

— Chegaram cartas de admissão de algumas universidades e, de novo, Justin, você tem que parar um pouco e resolver isso logo. Não pode esperar para sempre! As oportunidades estão aí e você não pode simplesmente parar e querer ficar pensando!

E o peso de todas as outras conversas sobre o mesmo assunto voltava a despencar em cima de mim. Eu estava exausto, acho que é isso que me fazia ter tanto sono. Era como um labirinto sem saída, mesmo tentando por outras passagens e caminhos, sempre voltávamos ao mesmo lugar, ao ponto de partida. 

— De novo, mãe? Quando você vai parar? Quando você vai finalmente entender que eu posso tomar minhas próprias decisões sozinho? Vocês mesmos vivem dizendo que estou com 18 anos, que preciso tomar conta da minha própria vida, então me deixem fazer isso! É a minha vida! E se eu cair e quebrar a cara, fazer o quê? Sempre vão existir band-aids. 

— Ei, olha o jeito que fala comigo! Eu só quero seu bem. — falou mais alto.

— Não! Não é isso que você está fazendo. Não vê? Você sempre critica minhas decisões. Se eu escolho uma camisa vermelha, você fala que a azul ficaria melhor. Se eu escolho humanas, você fala que eu deveria escolher exatas! Eu estou cansado! Tudo que eu faço está sempre errado para você! — levantei meu tom de voz acima do dela. 

— Mas isso é porque eu sou adulta! Eu sei mais do que você! — e agora ela gritava, podia ver a veia saltando em seu pescoço. Ela odiava ser contrariada e, quando isso acontecia, sempre ia aumentando o tom de voz até eu não conseguir falar. Até ela não poder me ouvir. Mas isso não ia acontecer dessa vez. 

— E como você acha que eu vou aprender? E se eu estiver certo em não querer entrar em uma faculdade que eu não goste? Eu me conheço, eu sei o que é melhor para mim. E se não souber, vou descobrir! E se eu estiver errado, o erro vai ser meu! Você não terá sua vida alterada em nada com meus erros, então não me prive deles, porque eu não vou estar para sempre sob seu radar! — falei firme e alto, me retirando da cozinha. Apertei os punhos e travei o maxilar enquanto atravessava a sala e subia a passos pesados para meu quarto. 

Grunhi e soquei o travesseiro algumas vezes. Quando me senti mais calmo, ajeitei minha postura e olhei em volta, tentando normalizar a respiração. Preciso dela.

Peguei a chave da moto de Clark e joguei minha mochila em cima da cama. A esvaziei e fui até minhas estantes. Peguei os exemplares sem nem precisar pensar em que lugar estavam e os coloquei dentro da mochila. Abri a gaveta e peguei biscoitos e doces, colocando junto. Desci as escadas de dois em dois degraus e ignorei meus pais me chamando, atravessei a sala sem desviar o olhar da porta e, por fim, atravessei-a, sem me importar com o fato da porta não ter culpa de nada. 

Fui até a parte de trás do quintal, empurrei a moto até a calçada e montei. Dei partida e logo o vento fresco batia no meu rosto, junto com o sol, fazendo um tipo de combinação perfeita. Eu adorava essa sensação. Acelerei e desviei dos carros pelas avenidas, parei do lado de fora do prédio dela e desci da moto. 

Seu número estava salvo na discagem rápida, apertei em seu nome e comecei a andar em círculos enquanto passava do sexto toque. Passei a mão no cabelo nervosamente e ela finalmente atendeu. 

— Ér.. Justin?

— Aham. Preciso te ver. — mordi o lábio. Eu sabia que ela me entenderia ou, pelo menos, me ouviria e faria tudo ficar bem. Eu precisava dela, meu porto seguro. 

— Nós... Não vamos nos ver, Justin. — respondeu pausadamente. 

— O que? Mas eu tô aqui do lado de fora do teu prédio. — soltei uma risada fraca. Franzi as sobrancelhas ao ouvir seu suspiro pelo telefone.

— Era sobre isso que eu queria falar na sua formatura. Mas você não me ouviu.

— Porque eu achei que ia me desejar boa sorte ou algo assim, mas você já tinha me dito isso antes e eu já tava atrasado. O que está acontecendo? — sua voz estava estranha. Mais baixa e regulada que o normal, como se estivesse escolhendo as palavras. O que era estranho porque ela sempre foi do tipo que não tem aquele filtro antes falar, fala o que acabou de pensar e machuque a quem machucar.

— Sabe ontem, que eu fui ao show da minha banda preferida?

— Sei. 

— Justin, eu... Depois do show, eu conversei com os integrantes da banda e descobri que estou apaixonada pelo Dan. 

— O que? — gritei. Aquilo era um tipo de piada? Porque, se fosse, era a pior e mais tosca piada de todos os tempos. E ainda poderia fazer eu ter um AVC a qualquer momento. 

— N-nós temos muito em comum, Justin. Nos damos bem e ele faz eu me sentir leve. 

— Isso não pode ser verdade! Como você se apaixona assim, em uma noite, Anna? MEU DEUS, ME DIZ QUE ISSO É UMA PIADA. — falei a última parte mais com os céus do que com ela, na verdade. 

— Não é uma piada, Bieber. — seu tom ficou mais seco. 

— E o tempo que passamos junto foi uma piada, Anna? Foi tudo uma piada? Porque se você não está fingindo que se apaixonou por um cara que conheceu ontem, tudo o que a gente viveu é a verdadeira piada. 

— Você tá sendo ridículo.

— Ah, eu estou sendo ridículo? Ser fã de um cara tudo bem, Anna, mas transformar isso em um amorzinho pré-adolescente? Pelo amor de Deus, achei que você tivesse mais substância que isso! 

E tudo que ouvi em resposta foi o barulho que indicava o fim da chamada. Tive vontade de jogar o celular no chão, mas puxei meu cabelo para frente e chutei as pedras pelo caminho, fazendo uma nuvem de poeira levantar. 

Nada mais fazia sentido. Anna... Tinha me trocado por um guitarrista que conheceu na noite passada? Quando tudo na minha vida ficou tão distorcido? Parece que estou em uma sala de espelhos. Eu estou como deveria estar, mas meu reflexo não apresenta totalmente a realidade. Tem formas estranhas. 

Montei na moto e dei partida, fazendo a nuvem de poeira aumentar enquanto olhava uma última vez para o prédio de Anna, na 14ª janela. Era onde ela morava. Voltei meu olhar para frente e acelerei o mais rápido possível. Tudo começou a desmoronar de repente. E, agora, sem Anna para me acalmar.... Ugh. Desvio das vias convencionais e avanço pela via alternativa, a caminho do único lugar que pode me dar paz agora. 

 [♥]

Apoiei minhas mãos ao lado do corpo e comecei a balançar meus pés, dependurados no ar, sentindo a brisa de olhos fechados. Puxei minha mochila e peguei um dos livros que tinha trazido. Agora eles são tudo o que tenho. E sei que esses quatro nunca irão me decepcionar.

Já estava escurecendo e eu usava uma lanterna para continuar lendo. O sol estava brilhando seus últimos minutos antes de sumir de vez no horizonte, e o penhasco, no qual eu estava sentado, dava uma vista privilegiada do meu próprio “Céu de Aquarela” por causa do pôr do sol. Soltei um riso fraco pela ironia do trocadilho.

E mesmo já tendo lido esse livro pelo menos umas duzentas vezes, ele ainda me envolvia totalmente na história. Tinha algo único ali, naqueles quatro. Por isso eram meus preferidos. Algo como que intrínseco, frases nas entrelinhas que podiam ser válidas para diversas situações e sentimentos tão bem descritos, tão bem expressados que tinha plena certeza que quem o escreveu sentiu cada um deles. 

Estou nas últimas páginas do livro, naquela parte onde outras peças do quebra-cabeças se montam e você tem aquele momento ''ahhhhh'' de compreensão, quando as coisas começam a fazer sentido e as atitudes são explicadas. 

Suspirei após ler a última frase. Ainda não me conformo com o final desse livro. Quero dizer, talvez fosse ficar uma bosta tendo uma continuação, mas é que bate uma bad, chega no último ponto final e você pensa “é, acabou”. Porque, sei lá, não é o final, final. Aconteceram várias outras coisas depois do final e eu queria saber que coisas eram essas. Não podia ter acabado assim! 

O autor desse livro era muito cruel. Em todos os sentidos da palavra. Desviei meu olhar para onde deveria estar uma pequena biografia do autor, mas, como eu já havia descoberto meses atrás, estava vazia. Da mesma forma que a parte da capa onde deveria estar o nome do escritor, está. Nem um nome, alguma frase que explique o anonimato, nada... Como um livro pôde ser publicado sem o nome de quem planejou e construiu tudo aquilo? A editora não podia simplesmente deixar esses livros sem criador, tudo tem criador... Bom, okay, ainda não descobrimos o definitivo criador da Terra, mas é diferente! Eu acho...

Passei a lanterna pela página e logo puxei a outra para virar, mas parei ao ver uma espécie de vulto na página. 

— O que...?

Passei a lanterna novamente pela página e vi que tinham rabiscos ali, meio fracos. Forcei os olhos e consegui enxergar algumas letras. Franzi o cenho. Como eu nunca tinha percebido isso antes? E isso era... Tinta invisível? Por que diabos alguém escreveria algo, com a intenção de lerem, claro, mas ao mesmo tempo querendo esconder?

— As flores de plástico estão murchando.

Li, era o que estava escrito. Era tinta invisível, com certeza. Eu teria notado se isso estivesse aí antes. Mas o que significa “As flores de plástico estão murchando” e o que isso tem a ver com o livro? Espera aí...

Se estivesse em um desenho animado, esse seria o momento em que uma lâmpada brilharia em cima da minha cabeça. Puxei a mochila para o meu colo em um movimento rápido e peguei os outros três livros. Passei a lanterna por cima deles para conseguir distingui-los.

— Achei você. — sussurrei, ignorando o fato de estar falando sozinho, de novo e fui passando as páginas até achar a referência. — Claro... Por isso a semelhança de estilo, o mesmo humor sarcástico e metáforas paradoxas. 

Eu já cheguei a desconfiar que talvez fossem do mesmo autor. Afinal, eu achei os quatro na mesma livraria, e todos tinham um quê de livro-mal-cuidado-e-envelhecido-mas-encantador. E, claro, todos não vinham com nenhum tipo de assinatura ou coisa assim. Mas isso era tipo uma prova concreta. Afinal, por que haveria uma referência ao poema que um dos personagens escreveu na última página de “Céu de Aquarela”? Mas por que?

Mais um momento brilhante me ocorreu e virei as páginas freneticamente até o ponto da mini-biografia. Passei a lanterna por ali. 

— Curly Music.

Okay, isso não fazia sentido. Mas, pelo menos, era alguma coisa. O que isso tinha a ver com “Céu de Aquarela” eu não sabia...

Mas eu iria descobrir. 

Guardei tudo na mochila e joguei-a em um dos ombros, subi na moto e acelerei pelo caminho da ponte menos frequentada da cidade. A sensação de adrenalina era incrível, quase como se me anestesiasse. Respirei fundo. O cheiro de nostalgia estava por todos os lugares. E, pela primeira vez em horas, sorri. 

Ao fim da ponte, voltei para a pista convencional e o céu já estava quase que completamente escuro. Milhões de estrelas salpicando o fundo escuro. Pela primeira vez, eu tinha uma pista. Uma pista de quem era a pessoa que tinha uma metáfora confusa para tudo, a que, mesmo não sabendo de nada, me entendia. Em seus personagens, em suas histórias... Cada parte fragmentada dos quatro livros parecia se encaixar com partes da minha vida e isso fazia eu me sentir mais compreensível. Se eu descobrisse quem era o escritor ou a escritora... Eu tinha que descobrir. Porque essa pessoa não colocaria vários elementos em comum em seus quatro livros sem ter passado por eles. E eu queria descobrir pelo que passou e o que fez com que ela sumisse do mapa e deixasse esses mistérios pairando sobre ela, me tirando o sono. 

Eu sabia que essa pessoa me entendia. E eu queria entendê-la também. 

6 comentários

  1. Ignore o meu comentário de "continua" no outro capítulo, eu nem percebi que já havia mais um kkk.

    Mas que fanfic perfeita é essa? Sim, eu percebia que eu realmente errei, ela não é a autora. Havia me esquecido desse detalhe sobre os livros cD

    Enfim, continue, por favor. E me perdoe os comentários pequenos, não sei fazer aqueles grande como você faz lá no Small Belieber e estou com sono, então... kkk

    Sério, continue!

    Tania R. | Small Belieber

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    1. kkk tudo bem :33
      Nhaaaw >w< jdhfsdjfh Esse é um dos grandes mistérios da fic hahah XD Vou continuar sim, já estou pensando nas coisas que irão acontecer e no dia vinte sai o próximo o/ ~para dar tempo do banner do cap ficar pronto :33 ~ Sim, eu tenho uma mania muito coisada de querer comentar sobre quase tudo do capítulo e aí fica gigante :'D ~e você nunca viu meus comments daqueles caps de 5.000 palavras do Social Spirit hauahauahah ~ Eu nem conseguiria comentar com sono, porque eu fico toda lezada e fechando os olhos toda hora >.<

      Aguarde mais um pouquinho que ele já já vai sair do forno >//< Obrigada por comentar e beijinhos de brigadeiro.

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  2. Melldells, AMEI! Blogger deveria implementar opções de "curtir" por aqui, já que não tenho face, quero curtir belos textos das colegas no blogger HAHAHA...
    Maravilhosa narrativa, meus parabéns =*

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    1. <3 hahah, sim deveria u-u cadê o inventor do blogger? Vamos ter uma conversa com ele aqui heueh
      Wow, Muito obrigada ^3^

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  3. Quando que eu terei tempo de ler esta estória, @deus?

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